quinta-feira, 17 de março de 2011

20 ANOS DE SOLIDÃO


Parece que foi ontem...

De vez em quando, ainda sinto o cheiro dela.

Sua voz carinhosa me contando "causos" do Nordeste, onde ora riamos, ora choravamos juntos.

O gosto de sua comida, em especial o feijão Fradim com carne-seca, quando comiamos eu, ela, irmã e prima, todos no chão e ela fazendo bolinhos de feijão com farinha e dando a nós com as mãos.

Peguei a mania de dormir com um travesseiro entre as pernas porque dormia com ela e, invariavelmente, jogava minhas pernas sobre ela.

Lembro-me das pouquissimas palmadas que ela me deu... Eu chorava no canto, depois vinha ela, me chamegar. Coisa de Vó mesmo.


É, parece que foi ontem. Que após uma consulta médica que seria de rotina por uma garganta inflamada e após alguns exames, vejo-a chorando na cozinha e pergunto: - O que foi? e ela responde: - Me mandaram pro Instituto Nacional do Câncer.

Minha primeira reação foi de ânimo minha véia...vai dar tudo certo.

E, não deu... Aquela que era mãe, pai, avó, tia, amiga... definhou e sofreu 3 amargos anos até que um dia... O FIM.

Briguei (Feio) com Deus alí... -Porque seu filho da puta? porque logo ela? porque não o viciado que eu chamo de Pai... A puta que eu chamo de mãe? e que não valhem-me pra nada...

13 anos... Busquei a culpa e culpei Deus.

Hoje, 17 de Março de 2011, fazem vinte anos que ela se foi. E, já refeito as pazes com Deus, sei que ela foi recebida no céu com festa nordestina e muito feijão fradim com carne seca... Porque ela era uma mulher de fibra, uma guerreira e, acima de tudo uma humanista incapaz de ver um vizinho ou qualquer ser humano em dificuldades e não mover mundos e fundos pra ajudar. Ou seja: Cristianismo essencial, Amai-vos uns aos Outros. E ela soube amar. A mim então nem se fala, que era o seu xodó e ela já percebia algo diferente, uma sensibilidade diante da vida que, com certeza, herdei dela.

É... Parece que foi ontem.

A saudade sempre vai persistir...Sinto o cheiro, o gosto do tempero, o travesseiro entre as pernas representa sua presença... Mas, munido da fé em que me encontro hoje, sei que um dia, me encontrarei com ela, minha doce avó, minha grande Ana Freire da Silva



Resquiece in Pace


Dedicado á maior mulher que o meu mundo já conheceu:

Ana Freire da Silva
* 09-11-1929

+ 17-03-1991



Um comentário:

  1. Tem uma música que diz:
    "Muitos rostos se foram, muitos outros virão, apesar da distancia, unidos de coração..."

    Acho q diz tudo.
    Fica bem.
    bju

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